Tendência de consumo que tem conquistado cada vez mais o paladar dos brasileiros atrai a atenção dos grandes players e se mostra uma ótima opção de investimento com retornos significativos.
Nas últimas décadas o Brasil tem assistido a um crescente aumento pela procura de cervejas artesanais, basta percorrer as fileiras de bebidas das principais redes de supermercados, ou de casas especializadas, para perceber que os rótulos artesanais conquistaram o lugar nas prateleiras, antes dominados pelas cervejas mainstream. O caso da cerveja não é algo isolado, o comportamento de boa parte dos consumidores mudou; estão mais exigentes, buscando por produtos de qualidade e menos industrializados, algo semelhante é observado com o café e com os queijos. Os consumidores estão dispostos a gastar um pouco mais para ter em mãos um produto que lhes propiciará experiências de consumo mais prazerosas.
Essa mudança no padrão de consumo fez com que a demanda fosse puxando a oferta. Segundo dados do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), nos anos 2000 o Brasil contava com 40 microcervejarias, e nos anos de 2020 esse número saltou para 1383, espalhadas por 609 municípios, em todos os estados da federação. Embora os números contabilizem apenas cervejarias que estão autorizadas a produzir, e não necessariamente cervejarias que de fato estejam operando, eles revelam que a procura pelo produto tem crescido em todo o território nacional.
Esse boom da cerveja artesanal no Brasil não passou despercebido pelos grandes da indústria, que correram para se adaptar à nova demanda de consumo. E a melhor maneira de fazer isso de forma rápida e garantir um bom posicionamento no mercado foi comprando cervejarias artesanais para incrementar seus portfólios. Em 2015 a AmBev mergulhou nesse universo ao anunciar a compra da Wälls e da Colorado. A Heineken, mesmo já inserida em um posicionamento premium, também tem voltado sua atenção para o segmento das artesanais, em 2017 adquiriu a Brasil Kirin, detentora das marca Baden Baden e Eisenbahn, e em 2019 iniciou a produção e comercialização da californiana Lagunitas no Brasil. E mais recentemente, a Coca-Cola FEMSA, responsável pela operação da marca no Brasil, anunciou, em 2021, a compra da cervejaria Petrópolis como forma de incrementar o portfólio de cervejas da empresa no país, após o rompimento de contrato com a Heineken. Esses são apenas alguns exemplos, mas nos últimos anos diversas cervejarias artesanais foram adquiridas por grandes grupos.
Diante desse cenário, cada vez mais as micro cervejarias têm buscado aporte de capital para expandir suas operações, colocando-se de forma mais competitiva no mercado para conquistar não só o público, mas também o olhar desses grandes players. Jorge Paulo Lemann declarou em 2018, durante uma entrevista ao portal infomoney, que se houver qualquer cerveja artesanal boa no Brasil ou na Argentina a Ambev a compra na hora! E desde a sua primeira aquisição em 2015, até os dias atuais, a companhia já adquiriu mais de 20 marcas artesanais.
O equity crowdfunding tem sido uma modalidade bastante utilizada pelas cervejarias artesanais na busca por esse aporte, pois permite levantar capital entre os próprios consumidores da marca, que já conhecem a qualidade do produto. Ao se tornarem sócios, acabam atuando como “embaixadores”, ajudando na divulgação de forma orgânica e, consequentemente, auxiliando a alavancar os negócios.
O caso mais emblemático é o da escocesa BrewDog, que fez sua primeira rodada de capital em 2010, e, de lá para cá, arrecadou U$ 95 milhões por essa via, através de cerca de 120 mil investidores bebedores de cerveja. Em entrevista à Forbes, James Watt, um dos fundadores da marca, disse que esse “é um modelo de negócios incrível, porque não os vemos como investidores, eles são defensores, são embaixadores, estão nessa jornada conosco. São o coração e a alma do nosso negócio”.
Coração e alma que têm feito o negócio pulsar muito bem. Na época de sua primeira captação a cervejaria foi avaliada em 23 milhões de Libras. Em 2017, um fundo americano adquiriu 22% da cervejaria, e os cotistas que quiseram vender suas ações receberam 28 vezes o valor investido. A BrewDog já passou por 5 rodadas de captação, duas delas realizadas nos EUA, e hoje está avaliada em 2 bilhões de Libras.
Diversos cases de sucesso aliados ao mercado aquecido, sem dúvidas, nos mostram que esse setor tem se consolidado com uma ótima opção de investimento, uma vez que a capacidade e o espaço para crescimento são muito grandes. Apesar de ser a categoria que mais cresceu dentro do mercado cervejeiro nos últimos 10 anos, a cerveja artesanal no Brasil ainda representa cerca de 3% de todo o volume de produção no país. E, com o consumidor cada vez mais disposto a se aventurar por novos sabores, essa porcentagem tende a continuar em ascensão nos próximos anos.